Em 1988, quando me deu esta febre de ser do Benfica, ser do Benfica era ser-se diferente, para melhor. O Benfica ia sempre longe nas competições europeias. Era campeão, pelo menos, ano sim, ano não. Desde essa altura, mais ou menos, que estou habituado a ver grandes jogadores de todo o mundo no Benfica. Ao vivo e a cores. Só nessa época, havia um Benfica com Silvino (que demonstrava um porte imponente), Veloso (esse, que falhou o «penalty» na final da Taça dos Campeões Europeus, contra o PSV Eindhoven), Vitor Paneira (sempre em grandes arrancadas pela ala direita), Ricardo Gomes (que dizer do golo de cabeça contra o Académico de Viseu, que sentenciou a partida?), Mozer (verdadeiro patrão da defesa), Valdo (de quem vi a estreia contra o Sporting de Espinho, e que número 10), Mats Magnusson (aquele golo mesmo à nossa frente, contra o Beira-Mar), Vata (o tal que marcou golo com a mão ao Marselha, que eu vi na televisão do Rainha 1, através da antena parabólica), Pacheco (o mesmo que Paneira, mas à esquerda), e ainda Fonseca, Lima, Ademir, Elzo, Garrido, Miranda, Ricky, Abel Campos, Samuel, Mariano, Abel Silva, e os históricos Diamantino, Chalana, Hernâni, Álvaro Magalhães, Shéu e Manuel Bento. O Benfica fazia uma vénia aos adeptos quando entrava em campo, com os jogadores todos com as mãos atrás das costas. Aquilo era quase uma entrada num concerto. É quase como um amor (ainda por cima à primeira vista). Não se explica. Foi desse Benfica que passei a gostar. Mesmo quando as opções directivas eram péssimas, e se passava um jejum de títulos horrível. Quando se ganha, é sempre mais fácil assumir-se, bem sei. Mas ser-se do Benfica era (e é) uma forma de estar no futebol, como dizem os comentadores. Depois, veio uma espécie de máquina trituradora, com Jorge Jesus, até que a coisa se tornou saturada. Hoje, porém, ao ver um vídeo com a voz de Rui Vitória, voltou um bocadinho desse sentimento que começou lá atrás, em 1987/1988, e se foi prolongando nas idas aos estádios um pouco por todo o lado. À Luz antiga, onde vi, pela primeira vez, o FC Porto, ainda com Zé Beto na baliza, por exemplo. Ao Estádio do Mar, contra o Leixões, onde, à chuva, Álvaro Magalhães corria como se não houvesse amanhã, mesmo à minha frente. E golos, muitos. E derrotas, algumas. E títulos, como o festejado na Luz, contra o Estrela da Amadora, connosco quase no famoso terceiro anel. É desse Benfica que gosto de ser. Mesmo que não ganhe nada, ou lute para não descer de divisão. Gosto dessa forma de estar no futebol. As outras, mais ou menos nebulosas, podem ficar para os outros.
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