De repente, um soneto de amor de Pablo Neruda entranha-se na pele, e toma conta de cada poro. A poesia quer-se com a música da língua em que é escrita, mas, às vezes, precisamos de traduzi-la. Precisamos de moldá-la ao que queremos dizer, porque, no fundo, o que queremos dizer é (quase) tudo o que ali está. Assim, roubei uma palavra, e coloquei duas. E tornei o soneto de Neruda (quase) meu. E as palavras alinharam-se, com o sabor que lhes era devido. E soube bem.
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio ou seta de cravos que propagam fogo: amo-te como se amam algumas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floresce, e leva dentro de si, escondida, a luz daquelas flores, e graças ao teu amor, vive no meu corpo o apertado aroma que ascendeu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, nem de onde. Amo-te directamente, sem problemas [e com] orgulho: amo-te assim, porque não sei amar de outra maneira; senão assim, deste modo em que não sou, não és; tão perto que a tua mão sobre o meu peito é minha; tão perto que se fecham os teus olhos com o meu sonho.
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